segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Bolhas

Segundo os registros médicos da Maratona de Londres, bolhas são as queixas mais comuns dos corredores após a prova. Elas raramente são um problema sério, mas podem se infeccionar e forçar uma parada nos treinamentos se não forem tratadas apropriadamente. Diabéticos e pessoas com problemas de circulação devem prestar ainda mais atenção à formação de bolhas, porque têm tendência à má circulação nas extremidades do corpo, como os pés, sendo a cicatrização mais difícil. Os negros, por terem a pele mais grossa, sofrem menos com esse tipo de lesão, o que não ocorre com as mulheres.

O QUE SÃO?
Bolhas são a acumulação de fluidos entre as camadas interior (derme, mais importante) e exterior (epiderme) da pele, que aparecem em função de um processo inflamatório.

QUAIS SÃO AS CAUSAS?
Bolhas podem ser causadas por agentes físicos (queimaduras/calor), agentes químicos (substâncias cáusticas), agentes infecciosos (fungos que formam micoses em locais úmidos, entre os dedos dos pés especialmente) e por traumas mecânicos, como no caso da corrida. Neste último caso, as bolhas aparecem quando há atrito intenso e prolongado entre pés e as meias, tênis ou solo, não dando ao corpo tempo suficiente para criar um calo (queratina). Sentindo o risco iminente da derme, o corpo defende-se produzindo um colchão d’água na tentativa de preservar as células germinadoras e toda a estrutura vascular e neurológica presente. Geralmente, as bolhas de corrida têm um conteúdo claro, chamado exsudato. Caso algum vaso sangüíneo rompa no descolamento da pele, a bolha enche de sangue.

ONDE APARECEM?
É mais comum em regiões em que o osso está saliente, como nos calcanhares e no dedinho.

COMO PREVENIR?
Há três fatores que, uma vez combinados, estão na origem das bolhas: calor, umidade e fricção. Conseguindo-se eliminar qualquer dos três, as bolhas serão evitadas. Possibilidades de defesa:

- tênis: certifique-se que seu tênis se encaixa apropriadamente em seu pé e que o mesmo atende sua biomecânica (pronador ou sub-pronador), evitando a fricção; este é, isoladamente, o fator mais importante a observar para evitar o aparecimento de bolhas. Um tênis de corrida apertado também irá causar considerável atrito. Prefira comprar tênis no fim do dia, quando os pés estão mais inchados e experimente o calçado em pé, porque nessa posição o pé fica mais volumoso. Deixe sobrar um dedo (1,5 cm) na ponta do calçado. Quem sua excessivamente deve escolher um calçado com mais ventilação, como os que têm tecidos com furinhos. Não compre tênis de couro! Nunca use um par de tênis novo nas provas: o tênis deve ser amaciado em pequenos treinos, passeios e até dentro de casa, tendo tempo para se familiarizar com a palmilha, as costuras e os novos atritos que poderão surgir, bem como para o tênis ganhar o formato do seu pé. Mude de tênis de corrida gradualmente. Não use tênis molhado para correr;
- meias: use meias de duas camadas ou meias anti-bolhas para minimizar a fricção e umidade (suor). Meias feitas de fibras sintéticas (microfibra de poliéster por exemplo) possuem grande capacidade de evacuação do suor e são boas para manter seu pé seco. Alternativas são meias com uma felpa densa ou colocar duas meias de algodão, fazendo com que o atrito que ocorreria entre a meia e a pele ocorra entre as duas meias. Meias de cano curto podem escorregar e pressionar o calcanhar, causando bolhas. Evite meias com costura, sobretudo na frente;
- pés: use desodorante anti-transpirante para os pés (em talco ou spray) para reduzir o suor. Use vaselina para impermeabilizar os pés e protegê-los do atrito. O ideal é usar vaselina sólida em vez de líquida, que tem mais fixação. O cuidado deve ser na quantidade aplicada, para que o pé não fique deslizando no calçado. Para quem tem a pele fina, especialmente mulheres, evite visitas freqüentes ao pedicuro e o lixamento da sola do pé.

Existem outros itens que também desempenham um papel importante na prevenção das bolhas, embora não sejam tão críticos:

- técnicas de laçagem: as diferentes técnicas contribuem para reduzir pontos de pressão, evitando a fricção;
- nutrição e hidratação: pele ressequida e mal nutrida tende a quebrar e fazer bolhas mais facilmente do que pele hidratada;
- polainas: a utilização deste acessório ganha especial importância em provas onde areia, terra ou qualquer outro tipo de detrito ou sujidade entre no calçado e acabe por causar fricção;
- palmilhas: palmilhas de neoprene podem reduzir a fricção;
- ortóteses: também designadas de palmilhas ortopédicas, ajudam o pé a manter-se e a funcionar numa posição anatômica neutra, aliviando problemas de equilíbrio e reduzindo pontos de pressão;
- adesivos: devem ser colocados nas zonas onde costumamos sofrer maior fricção. Coloque micropore em volta de todos os dedos do pé, deixando as pontinhas para fora. O mesmo deve ser feito no meio do pé e no calcanhar. Depois, passe vaselina sobre o micropore. Em algumas situações alguns atletas optam por cobrir parte ou a totalidade da pele especialmente na sola dos pés com adesivo, conseguindo desta forma reduzir significativamente a fricção.

Se participar de uma prova longa ou em que os pés sejam totalmente submersos em água, tenha cuidados especiais com a umidade: leve vários pares de sapatos e meias para poder rodar, mantendo os pés secos. Escolha sapatos arejados, que sequem rapidamente ou crie buracos no calçado para que a água seja escoada mais facilmente.

Cada atleta deve encontrar a estratégia de prevenção que melhor funciona para si: o que traz bons resultados para um atleta pode não ajudar outro. Ainda que o atleta não seja suscetível, a participação em provas longas e/ou importantes sugere alguns destes cuidados preventivos.

COMO TRATAR?
No geral, as pessoas tentam aliviar os sintomas comprando protetores para as bolhas, ou as arrebentando. No entanto, enquanto a causa do problema não for eliminada o mesmo persistirá. Prefira combater a causa (prevenção) e não os efeitos. Se a bolha for pequena, não fure. Coloque água boricada para que a pele seque mais rápido. Se for correr e a bolha ainda estiver no pé, proteja-a com um adesivo curativo ou um esparadrapo. Se o fluido não for reabsorvido pela pele em 24 horas ou se a bolha causar dor, os dermatologistas recomendam que a mesma seja estourada. Limpe a bolha esfregando álcool ou outra solução anti-séptica e então fure-a com uma agulha esterilizada. Drene o fluido, mas mantenha a pele, já que ela serve como curativo biológico e protege contra infecções. Se a bolha reencher, fure novamente. Cubra a área com uma bandagem adesiva. As camadas da pele irão aderir-se e, dentro de 48 horas a maioria das bolhas está seca o suficiente para serem expostas ao ar. Você estará correndo sem dor em breve. No caso da bolha de sangue e se a mesma estiver dolorida, fure-a logo após a sua formação. Caso contrário, o sangue coagulará e só sairá se retirada a pele sobre a bolha. O atleta pode usar um cicatrizante com antibiótico, que combate bactérias e cura o ferimento mais rápido. Ele só precisa procurar um médico quando houver sinal de infecção, ou seja, quando a região da bolha estiver quente, muito vermelha ou com secreção amarela (pus).

PODE-SE CORRER COM BOLHAS?
Enquanto estiver com bolhas, o ideal é que a pessoa fique em repouso, mas, se tiver que correr...

- coloque um bandaid sobre a bolha, passe vaselina sobre o bandaid, enfaixe a região com uma camada de esparadrapo do tipo micropore, passe vaselina sobre o esparadrapo e coloque uma meia nova de algodão, bem macia;
- use protetores especiais para os dedos, feitos de silicone e espuma, à venda em lojas de podologia;
- passe um produto importado chamado second skin, que provoca um efeito de endurecimento da pele parecido com os da cola de colagem rápida.

Adaptado de
http://www.copacabanarunners.net/pes.html
http://revistao2.uol.com.br/mostramateria.asp?IDmateria=211
http://www.omundodacorrida.com/phpBB2/showthread.php?t=3014
http://www.webrun.com.br/corridasderua/conteudo/noticias/index/id/8470
http://www.revistacontrarelogio.com.br/materias/?Corra%20das%20bolhas.332

6 comentários:

Ricardo Hoffmann disse...

Belo post Márcio! Valeu a dica!

Adriana Canuto disse...

Já tentei quase tudo que está indicado no post, mas elas insistem em aparecer. Só não usei duas meias ainda. Tô desanimando. Alguém saberia indicar marcas de meias ou adesivos (exceto micropore e esperadrapo, pois não funcionam comigo) específicos que possam melhorar o problema?
Obrigada.
Adriana.

Márcio Santana disse...

Não perca as esperanças ainda, Adriana, risos. Justamente a alternativa que você ainda não tentou é a que eu utilizo: duas meias. No meu caso, utilizo uma meia de fibra sintética (meia masculina social) e, por cima, uma meia de algodão felpuda. Resolveu 90 % do meu problema com bolhas. Os outros 10% ficam por conta do tênis e/ou do local de treinamento (ladeiras exigem muito da elasticidade da sola do meu pé).

Adriana Canuto disse...

Tentarei as duas meias assim que as bolhas recentes melhorarem. Só não sei se ficarei charmosa com meias masculinas... rs.
Valeu pela dica.
Tenho mais uma que não consta no post. Nas minhas pesquisas na net achei esse produto: blist-o-ban... Simplesmente fantástico. Pena que não se vende no Brasil. Segue o link. http://www.sammedical.com/blistoban.html
Obrigada.
Abração.

Adriana.

uma sonhadora disse...

Pois é, eu estou com um baita problemão por não ter tomado as devidas precauções para o tratamento de uma bolha que surgiu no meu calcanhar direito. A bolha infeccionou e não consigo colocar meu pé no chão nem tocar nele de tanta dor que sinto.
Sem falar que meu calcanhar está parecendo pata de elefante de tão inchado que está.

Márcio Santana disse...

Pam, cuidado com esta infecção. Sugiro procurar um dermatologista rapidamente. Sem querer te preocupar demais, mas li em algum lugar que esse tipo de coisa chegou até mesmo a amputar uma atleta profissional, acho que nos Estados Unidos.