Já ouvi ou li de alguns corredores sobre o uso de analgésicos antes e durante as competições mais extenuantes. Sempre me soou bastante estranho este “drible” na dor, mas nunca havia lido nada mais sério a respeito.
A Revista Contra-Relógio de agosto de 2008 traz interessante matéria sobre o assunto que, acredito, pode nos ajudar a tomar decisões melhor fundamentadas quanto ao uso dos analgésicos. A seguir, apresento um resumo com alguns trechos copiados da matéria deixando um pouco de lado as informações mais técnicas sobre os fármacos.
Na busca por melhores resultados, sublimar a dor é objetivo comum a praticamente todos os atletas, em todos os níveis... muitos antecipam a dose de analgésico, tomando-a antes ou durante a própria competição. Será essa uma boa prática? Será que vale a pena copiá-la? Será?
Resposta orgânica a algo de errado que está ocorrendo no corpo, a dor é uma sensação desagradável, que varia do desconforto leve ao insuportável. É, portanto, um aviso, um sinal de alerta, uma forma de proteção. Um mecanismo de defesa que permite ao ser humano evitar tanto as causas como seus fatores de piora...
Analgésicos tais como ácido acetil salicílico, dipirona, paracetamol, ibuprofeno e naproxeno sódico possuem prós e contras, podendo interferir negativamente no sistema gastrointestinal, na coagulação sangüínea, na pressão arterial (derrubando-a ou aumentando-a), nas células brancas do sangue que servem à defesa do organismo, no fígado (sobretudo se associado a fatores como febre elevada, hepatite viral, diarréia intensa, jejum prolongado, vômitos abundantes, ingestão de bebida alcoólica e uso simultâneo de certos medicamentos).
Muitos treinadores de renome, a maioria deles atletas ou ex-atletas, relatam já ter utilizado analgésicos preventivamente. Acreditam que isto não chegava a influenciar nos resultados, mas apenas na performance, sendo mais fácil correr com menos dores. No entanto, nenhum dos entrevistados recomendou o uso preventivo de analgésicos, sempre direcionando aqueles que se interessam em fazê-lo a buscar orientação médica.
"Não considero benéfico o uso indiscriminado de nenhum fármaco para aumentar a capacidade esportiva de alguém, não interessando se é ou não atleta de alto rendimento... a banalização no uso destes medicamentos deve ser muito bem avaliada, seja pelo médico que recomenda, pelo treinador que sugere ou pelo esportista que aceita tomá-los. Por inibir o processo de dor, podem levar o atleta a não parar quando apresenta pequenos traumas, agravando assim a lesão." Rogério Lachtermacher, médico da CBAt e da FARJ, Mestre em ciências médicas e envolvido no esporte há 27 anos.
"Nenhum tipo de analgésico deve ser tomado antes de termos a sensação dolorosa, já que muitas vezes é a própria atividade física que ‘nos medica' contra o processo da dor. Deveríamos considerar o uso pré-competição como uma forma de obter melhores resultados perante os oponentes, como um doping. Sou formalmente contra o uso de tais medicamentos nessa situação". Ricardo do Rêgo Barros, coordenador do grupo de trabalho em medicina desportiva da Sociedade Brasileira de Pediatria e maratonista.
"Em corredores treinados, as dores musculares pós atividade física não são comuns, e quando surgem têm um tempo limitado, durando em torno de 24h a 48h. No entanto, a dor de origem osteoarticular também é freqüente nesses mesmos atletas, e quando negligenciada pode trazer conseqüências desastrosas como, por exemplo, as fraturas por estresse, principalmente na tíbia e no pé, e as lesões de cartilagem na articulação do joelho". Moisés Cohen, professor livre docente e chefe do Centro de Traumatologia do Esporte da UNIFESP, e diretor do Instituto Cohen de Ortopedia, Reabilitação e Medicina do Esporte.
Embora a analgesia preventiva ainda seja discutida na prática da medicina esportiva, uma coisa é o uso preventivo de medicamentos contra a dor que eventualmente poderá aparecer nas provas mais exaustivas; outra bem diferente é a dor que certamente irá aparecer, seja em função de alguma patologia vigente ou por ainda não estar totalmente curada. "A meu ver, nesse segundo caso, o uso preventivo de substâncias caracteristicamente analgésicas ou antiinflamatórias jamais deve ser feito", diz Osmar de Oliveira, ortopedista e médico do esporte. Nesses casos, o correto é procurar tratar a causa, não apenas o efeito.
A prevenção contra a dor não é feita apenas com medicamentos. Além dos cuidados com o programa de treinamento e com a escolha de equipamento adequado, vários outros aspectos naturais podem e devem ser observados diretamente pelo próprio atleta, tais como o repouso, o fortalecimento muscular e o aquecimento.
Há muitas boas razões para que se faça atividade física regularmente. Entre outros benefícios, o exercício ativa a função cardíaca, fortalece os ossos, ajuda a controlar o peso, aumenta a flexibilidade e desenvolve a clareza mental. Nas corridas, em meio a tantas coisas boas e entendida de forma correta, a dor não é exatamente uma vilã. Passa a ser em duas situações: quando pouco sabemos a seu respeito ou quando decidimos ignorar os limites que nos impõe. Tendo chegado até aqui, para você que agora se encontra na situação dois, uma última recomendação: prevenir é bom; prevenir naturalmente melhor ainda.
Quem quiser ler a matéria completa, vale a pena.
A Revista Contra-Relógio de agosto de 2008 traz interessante matéria sobre o assunto que, acredito, pode nos ajudar a tomar decisões melhor fundamentadas quanto ao uso dos analgésicos. A seguir, apresento um resumo com alguns trechos copiados da matéria deixando um pouco de lado as informações mais técnicas sobre os fármacos.
Na busca por melhores resultados, sublimar a dor é objetivo comum a praticamente todos os atletas, em todos os níveis... muitos antecipam a dose de analgésico, tomando-a antes ou durante a própria competição. Será essa uma boa prática? Será que vale a pena copiá-la? Será?
Resposta orgânica a algo de errado que está ocorrendo no corpo, a dor é uma sensação desagradável, que varia do desconforto leve ao insuportável. É, portanto, um aviso, um sinal de alerta, uma forma de proteção. Um mecanismo de defesa que permite ao ser humano evitar tanto as causas como seus fatores de piora...
Analgésicos tais como ácido acetil salicílico, dipirona, paracetamol, ibuprofeno e naproxeno sódico possuem prós e contras, podendo interferir negativamente no sistema gastrointestinal, na coagulação sangüínea, na pressão arterial (derrubando-a ou aumentando-a), nas células brancas do sangue que servem à defesa do organismo, no fígado (sobretudo se associado a fatores como febre elevada, hepatite viral, diarréia intensa, jejum prolongado, vômitos abundantes, ingestão de bebida alcoólica e uso simultâneo de certos medicamentos).
Muitos treinadores de renome, a maioria deles atletas ou ex-atletas, relatam já ter utilizado analgésicos preventivamente. Acreditam que isto não chegava a influenciar nos resultados, mas apenas na performance, sendo mais fácil correr com menos dores. No entanto, nenhum dos entrevistados recomendou o uso preventivo de analgésicos, sempre direcionando aqueles que se interessam em fazê-lo a buscar orientação médica.
"Não considero benéfico o uso indiscriminado de nenhum fármaco para aumentar a capacidade esportiva de alguém, não interessando se é ou não atleta de alto rendimento... a banalização no uso destes medicamentos deve ser muito bem avaliada, seja pelo médico que recomenda, pelo treinador que sugere ou pelo esportista que aceita tomá-los. Por inibir o processo de dor, podem levar o atleta a não parar quando apresenta pequenos traumas, agravando assim a lesão." Rogério Lachtermacher, médico da CBAt e da FARJ, Mestre em ciências médicas e envolvido no esporte há 27 anos.
"Nenhum tipo de analgésico deve ser tomado antes de termos a sensação dolorosa, já que muitas vezes é a própria atividade física que ‘nos medica' contra o processo da dor. Deveríamos considerar o uso pré-competição como uma forma de obter melhores resultados perante os oponentes, como um doping. Sou formalmente contra o uso de tais medicamentos nessa situação". Ricardo do Rêgo Barros, coordenador do grupo de trabalho em medicina desportiva da Sociedade Brasileira de Pediatria e maratonista.
"Em corredores treinados, as dores musculares pós atividade física não são comuns, e quando surgem têm um tempo limitado, durando em torno de 24h a 48h. No entanto, a dor de origem osteoarticular também é freqüente nesses mesmos atletas, e quando negligenciada pode trazer conseqüências desastrosas como, por exemplo, as fraturas por estresse, principalmente na tíbia e no pé, e as lesões de cartilagem na articulação do joelho". Moisés Cohen, professor livre docente e chefe do Centro de Traumatologia do Esporte da UNIFESP, e diretor do Instituto Cohen de Ortopedia, Reabilitação e Medicina do Esporte.
Embora a analgesia preventiva ainda seja discutida na prática da medicina esportiva, uma coisa é o uso preventivo de medicamentos contra a dor que eventualmente poderá aparecer nas provas mais exaustivas; outra bem diferente é a dor que certamente irá aparecer, seja em função de alguma patologia vigente ou por ainda não estar totalmente curada. "A meu ver, nesse segundo caso, o uso preventivo de substâncias caracteristicamente analgésicas ou antiinflamatórias jamais deve ser feito", diz Osmar de Oliveira, ortopedista e médico do esporte. Nesses casos, o correto é procurar tratar a causa, não apenas o efeito.
A prevenção contra a dor não é feita apenas com medicamentos. Além dos cuidados com o programa de treinamento e com a escolha de equipamento adequado, vários outros aspectos naturais podem e devem ser observados diretamente pelo próprio atleta, tais como o repouso, o fortalecimento muscular e o aquecimento.
Há muitas boas razões para que se faça atividade física regularmente. Entre outros benefícios, o exercício ativa a função cardíaca, fortalece os ossos, ajuda a controlar o peso, aumenta a flexibilidade e desenvolve a clareza mental. Nas corridas, em meio a tantas coisas boas e entendida de forma correta, a dor não é exatamente uma vilã. Passa a ser em duas situações: quando pouco sabemos a seu respeito ou quando decidimos ignorar os limites que nos impõe. Tendo chegado até aqui, para você que agora se encontra na situação dois, uma última recomendação: prevenir é bom; prevenir naturalmente melhor ainda.
Quem quiser ler a matéria completa, vale a pena.
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